segunda-feira, 2 de maio de 2016

CLAUDIO WILLER | Allen Ginsberg e a volta dos apocalipses da década de 50


Desde o 11 de setembro, eu vinha observando que Allen Ginsberg, morto em 1997, fazia falta. Seria alguém capaz de dizer algo, fazer um pronunciamento lúcido sobre o que anda acontecendo nos Estados Unidos e no mundo. Certamente, diria algo bem melhor e bem acima do tipo de maniqueísmo que temos visto, representado, de um lado, por pessoas que enxergam alguma positividade em atentados e os acham capazes de abalar os alicerces da sociedade capitalista, e, de outro, pelos que endossam irrestritamente o militarismo como represália.
Por isso, em homenagem ao momento presente, ofereço dois dos seus poemas que traduzi para a edição de Uivo, Kaddish e outros poemas (L&PM editores, 1999): um mais político, Morte à orelha de Van Gogh! e outro mais místico, Salmo mágico. Há, em ambos, a representação de um fim de mundo ou de uma sociedade à beira do abismo, enfatizada na frase inicial do segundo deles: Porque o mundo está à beira do abismo e ninguém sabe o que virá depois.
Retratam, portanto, um ambiente ou um contexto de catástrofe iminente, associada às tensões da Guerra Fria e do risco de um confronto com armas nucleares, que repentinamente voltou e se reinstalou em nosso cotidiano. Aliás, cabe uma pergunta: ao aludirmos ao militarismo e ao desprezo pelas questões ambientais e outros temas que ganharam relevo nos últimos meses, é de um retrocesso aos anos 50 que estamos falando,? Ou estamos tratando de algo bem pior, da volta a um período anterior, mais bárbaro ainda? A menção, em Morte à orelha de Van Gogh, a Teddy Roosevelt, o presidente norte-americano que invadiu Cuba em 1892, em uma guerra notoriamente produzida pela imprensa, nos deixa em sobressalto. Pode ser que estejamos recuando mais ainda do que receamos, em uma viagem sem regresso que acabará nos devolvendo à Idade das Cavernas.
Morte à Orelha de Van Gogh! dialoga com Antonin Artaud, notadamente em Van Gogh, o Suicidado pela Sociedade e Para acabar com o julgamento de Deus, pelo tom de acusação indignada e a politização dos artistas "malditos". Neste e em outros textos, inclusive No túmulo de Apollinaire, há constante referência a poetas que se suicidaram: Maiakovsky, Hart Crane, Lindsay, Vaché, Rigaut; e aos que morreram prematuramente: Lorca, Radiguet, Apollinaire. É a viagem órfica, com Ginsberg refazendo o percurso de Orfeu, patrono dos poetas, descendo ao reino dos mortos e encontrando seus pares (a interpretação é reforçada pela menção à barca do Letes no Supermercado na Califórnia). Há, em Morte à Orelha de Van Gogh! uma frase que poderia servir como epígrafe para toda a obra de Ginsberg: esta é a hora da profecia sem morte como consequência: Continuador da tradição dos poetas proféticos, indignados com seu tempo, para ele o conflito entre poeta e sociedade não mais terá como consequência sua destruição; ao contrário, será ouvido, e sua voz ecoará com mais força do que a dos políticos. O poema também poderia se chamar "Morte à Morte", morte ao símbolo da exclusão do poeta e seu banimento, a orelha cortada de Van Gogh.
Quanto a Salmo Mágico, faz parte de uma tríade de poemas sob alucinógenos. A edição da City Lights de Kaddish and other Poems vem com uma nota de Ginsberg, agregada ao texto, incorporada às demais notas na edição da Harper & Row: Salmo Mágico, a Resposta & O Fim registram as visões experimentadas depois de tomar Aiauasca, uma poção espiritual do Amazonas. A mensagem é: Alargar a área da consciência. É uma versão abreviada das anotações de Ginsberg no Peru, na região de Pucallpa, durante as sessões de ingestão desse preparado com índios curandeiros em junho de 1960, é um chamamento, uma invocação. Sobre a busca do Aiauasca e seus resultados, a correspondência de Ginsberg e Burroughs emThe Yage Letters, Cartas do Yage.
Há notas várias de rodapé, na edição em livro de Morte à orelha de Van Gogh. Para facilitar a leitura on-line, coloquei-as no final desse poema.


MORTE À ORELHA DE VAN GOGH!

O Poeta é Sacerdote
O dinheiro contabilizou a alma da América
O Congresso desabou no precipício da Eternidade
O Presidente construiu uma máquina de guerra que vomitará e varrerá a Rússia para fora do Kansas
O Século Americano foi traído por um Senado louco que não dorme mais com sua mulher
Franco assassinou Lorca o filho queridinho de Whitman 
assim como Maiakovski se suicidou para evitar a Rússia
Hart Crane Platônico insigne se suicidou para soterrar a América errada
assim como milhões de toneladas de cereal humano foram queimadas em porões secretos sob a Casa Branca 
enquanto a Índia morria de fome e gritava e comia cachorros loucos encharcados de chuva 
e montões de ovos eram reduzidos a pó branco nos corredores do Congresso
nenhum homem temente a Deus andará de novo por lá por causa do fedor dos ovos podres da América
e os índios de Chiapas continuam a mastigar suas tortillas sem vitaminas
aborígenes da Austrália talvez resmunguem na selva sem ovos 
e raramente eu tenho um ovo para o café da Manhã embora meu trabalho precise de infinitos ovos para renascer na Eternidade 
ovos deviam ser comidos ou então devolvidos a suas mães
e o desespero das incontáveis galinhas da América se expressa pela gritaria dos seus comediantes no rádio
Detroit fabricou um milhão de automóveis de seringueiras e fantasmas
mas eu caminho, eu caminho e o Oriente caminha comigo e toda a África caminha
e mais cedo ou mais tarde a América do Norte também caminhará
pois assim como expulsamos o Anjo Chinês da nossa porta, ele também nos expulsará da Porta Dourada do futuro
nós não mostramos piedade para Tanganica
Einstein em vida recebeu zombarias por sua política celestial 
Bertrand Russel expulso de Nova York por trepar
e o imortal Chaplin foi expulso das nossas praias com a rosa entre os dentes
uma conspiração secreta da Igreja Católica nos mictórios do Congresso negou anticoncepcionais às incessantes massas da Índia
Ninguém publica uma palavra que não seja o delírio covarde de um robô com mentalidade depravada
o dia da publicação da verdadeira literatura do corpo americano será o dia da Revolução
a revolução do cordeiro sexual
a única revolução incruenta que distribuirá cereais
o pobre Genet iluminará os que trabalham nas colheitas de Ohio
Maconha é um narcótico benigno mas J. Edgar Hoover prefere seu mortífero scotch
E a heroína de Lao-Tsé & do Sexto Patriarca é punida com a cadeira elétrica
porém os pobres drogados não têm onde pousar suas cabeças 
canalhas em nosso governo inventaram um tratamento torturante para o vício tão obsoleto quanto o Sistema de Defesa de Alarme pelo Radar
eu sou o sistema de defesa de alarme pelo radar

Não vejo nada a não ser bombas
não estou interessado em impedir que a Ásia seja Ásia
e os governos da Rússia e da Ásia se erguerão e cairão mas a Ásia e a Rússia não cairão
o governo da América também cairá mas como pode a América cair
duvido que mais alguém venha a cair alguma vez a não ser os governos
felizmente todos os governos cairão 
os únicos que não cairão serão os bons 
e os bons governos ainda não existem
Mas eles precisam começar a existir eles existem nos meus poemas
eles existem na morte dos governos da Rússia e da América 
eles existem nas mortes de Hart Crane e de Maiakovski 
Esta é a hora da profecia sem morte como consequência 
o universo acabará por desaparecer
Hollywood apodrecerá nos moinhos de vento da Eternidade
Hollywood cujos filmes estão atravessados na garganta de Deus
Sim Hollywood receberá o que merece
Tempo
Infiltração ou gás paralisante pelo rádio
A História tomará profético este poema e sua horrível estupidez será uma hedionda música espiritual
Eu tenho o arrulhar das pombas e a pluma do êxtase
O Homem não pode aguentar mais a fome da abstração canibal
A guerra é abstrata
o mundo será destruído
mas eu só morrerei pela poesia que salvará o mundo
Monumento a Sacco e Vanzetti ainda não patrocinado para dignificar Boston
nativos do Quênia atormentados pelos imbecis criminosos da Inglaterra
a África do Sul nas garras do branco alucinado
Vachel Lindsay Ministro do Interior
Poe Ministro da Imaginação
Pound Ministro da Fazenda
e Kra pertence a Kra e Pucti a Pucti
cruzamento de Blok e Artaud 
a Orelha de Van Gogh estampada no dinheiro 
chega de propaganda de monstros 
e os poetas devem ficar fora da política ou se tornarão monstros 
eu me tornei monstruoso por causa da política 
o poeta russo indiscutivelmente monstruoso em seu diário íntimo
o Tibete deve ser deixado em paz
Estas são profecias óbvias
A América será destruída
os poetas russos lutarão contra a Rússia
Whitman preveniu contra essa "maldita fábula das nações" 
Onde estava Theodore Roosevelt quando ele mandou ultimatos do seu castelo em Camden
Onde estava a Câmara dos Deputados quando Crane leu em voz alta seus livros proféticos
Onde estava tramando Wall Street quando Lindsay anunciou o destino final do Dinheiro
Estariam escutando meus delírios nos vestiários do Departamento de Pessoal de Bickford’s?
Deram ouvidos aos gemidos da minha alma enquanto eu lutava 
com estatísticas de pesquisas de mercado no Fórum de Roma?
Não eles estavam brigando em reluzentes escritórios, sobre carpetes de parada cardíaca, berrando e negociando com 
o Destino
brigando com o Esqueleto com sabres, mosquetões, dentes arreganhados, indigestão, bombas de roubo, prostituição, foguetes, pederastia,
de costas para a parede por causa das suas mulheres, apartamentos, gramados, subúrbios, contos de fada,
Porto-riquenhos amontoados para o massacre por causa de uma geladeira de imitação chinesa-moderna
Elefantes da misericórdia trucidados por causa de uma gaiola elizabetana de pássaros
milhões de fanáticos agitados no hospício por causa do estridente soprano da indústria
O canto de dinheiro das saboneteiras - macacos de pasta de dente nos televisores - desodorantes em cadeiras hipnóticas -
atravessadores de petróleo no Texas - aviões a jato riscando as nuvens -
escritores do céu mentirosos diante da Divindade - açougueiros de afiados dentes com chapéus e sapatos, todos Proprietários! Proprietários! Proprietários! com obsessão de propriedade e Ego evanescente! 
e seus longos editoriais tratando friamente do caso do negro que berra atacado por formigas pulando para fora da primeira página!
Maquinaria de um sonho elétrico das massas! A Prostituta da Babilônia criadora de guerras vociferando com Capitólios e Academias!
Dinheiro! Dinheiro! Dinheiro! dinheiro celestial da ilusão berrando loucamente! Dinheiro feito de nada, fome, suicídio! Dinheiro do fracasso! Dinheiro da morte!
Dinheiro contra a Eternidade! e os fortes moinhos da eternidade trituram o imenso papel da ilusão!



NOTAS
• Lorca o filho queridinho de Whitman - queridinho é tradução de fairy, "fadinha"; em gíria, boneca, bicha. A passagem remete à Ode a Walt Whitman de Lorca, e às idéias de Ginsberg, expostas na entrevista para o Gay Sunshine, sobre uma espécie de transmissão iniciática pelo contato sexual entre homossexuais, ao comentar sobre um homem com quem Neal Cassady havia transado na juventude, que por sua vez transara com o próprio Walt Whitman: uma linhagem, por essa via, de Whitman a Ginsberg.
• Hart Crane - grande poeta americano (1899-1932), autor de White Buildings e The Bridge, que se suicidou, jogando-se de um navio. Parte de sua obra dá continuidade a Whitman, inclusive no profetismo e messianismo. Comentaristas apontam relação entre o texto de Ginsberg e Crane, pelos versos longos e uso de travessões.
• milhões de toneladas de cereal humano - alusão a manobras para manter o preço dos produtos, queimando cereais e pulverizando o excesso de produção de ovos (algo semelhante às queimas de café no Brasil depois da crise de 29).
• eu caminho, eu caminho - but I walk, I walk, com o duplo sentido de avançar, prosseguir, e de andar a pé, em contraste com os automóveis do verso anterior.
• expulsamos o anjo chinês -o Oriental Exclusion Act de 1911 impôs limites à imigração de chineses nos Estados Unidos; uma lei racista.
• Bertrand Russel expulso de Nova York por trepar - o filósofo, matemático e pacifista inglês foi expulso nos anos 40, depois do escândalo alimentado pela imprensa conservadora, por viver maritalmente com uma mulher e haver defendido o "casamento livre", pessoas viverem juntas algum tempo antes de casarem, para saberem se a união valeria a pena.
• e o imortal Chaplin foi expulso de nossas praias - a expulsão de Chaplin foi nos anos 5O, em pleno macarthismo, acusado de idéias comunistas. Desde então, passou a viver na Europa. Einstein também foi hostilizado pelo FBI e tachado de comunista, por seu pacifismo internacionalista, dos anos 30 até 50.
• Sexto Patriarca - mentor do Budismo.
• Lindsay - Vachel Lindsay; o poeta foi um crítico do mercantilismo e da ganância, na mesma linha de Whitman.
• Kra pertence a Kra e Pucti a Pucti - Kra e Pucti são glossolalias, ou seja, sons não semantizados presentes em textos de Antonin Artaud, como Van Gogh, o suicidado pela sociedade, e Para acabar com o julgamento de Deus, sua obra derradeira, terminada pouco antes de morrer.
• Blok - Aleksander Alexandrovich Blok (1880-1921), o grande poeta simbolista russo.
• Theodore Roosevelt - presidente dos Estados Unidos na primeira década do nosso século; responsável pela política intervencionista do "big stick"; antes, havia comandado a invasão de Cuba em 1898;
• castelo em Camden - a casa onde Walt Whitman morou em Camden, Nova Jersey, e escreveu Democratic Vistas, seu livro político-profético no qual pedia uma América mais democrática e menos gananciosa.
• Bikcfords - a lanchonete na qual Ginsberg lavou pratos depois de sair de Columbia, Nova York.
• enquanto eu lutava com estatísticas de pesquisa de mercado - Ginsberg trabalhou como analista de dados na firma Towne-Oller de San Francisco, em 1954; seu último emprego fixo antes de dedicar-se apenas à poesia.


SALMO MÁGICO

Porque o mundo está à beira do abismo e ninguém sabe o que virá depois
Ó Fantasma que minha mente persegue de ano para ano desce do céu para esta carne trêmula
colhe meu olho fugitivo no vasto Raio que não conhece limites - Inseparável - Mestre
Gigante fora do tempo com todas as suas folhas caindo - Gênio do Universo - Mágico do Nada onde nuvens vermelhas aparecem -
Indizível Rei das rodovias que se foram - lninteligível Cavalo saltando fora do sepulcro - Poente sobre a grande Cordilheira e inseto - Cupim -
Lamentoso - Riso sem boca, Coração que nunca teve carne para morrer - Promessa que não foi feita - Consolador, cujo sangue arde em um milhão de animais feridos -
Ó Misericórdia, Destruidor do Mundo, Ó Misericórdia, Criador das Ilusões Acalentadas, Ó Misericórdia, arrulho cacofônico da boca quente, Vem, 
invade meu corpo com o sexo de Deus, sufoca minhas narinas com a infinita carícia da corrupção, 
transfigura-me em vermes viscosos de pura transcendência sensorial, ainda estou vivo,
grasna minha voz com o mais feio que a realidade, um tomate psíquico falando-Te por milhões de bocas,
Alma minha com miríades de línguas, Monstro ou Anjo, Amante que vem me foder para sempre - véu branco do Polvo sem Olhos 
Cu do Universo no qual desapareço - Mão Elástica que falou com Crane - Música que toca na vitrola dos anos vinda de outro Milênio - Ouvido dos edifícios de NY 
Aquilo em que acredito - que vi - procurei incessantemente na folha cachorro olho - sempre culpa, falta, - o que me faz pensar -
Desejo que me criou, Desejo que escondo no meu corpo, Desejo que todo Homem conhece Morte, Desejo ultrapassando o mundo Babilônico possível 
que faz minha carne sacudir-se em orgasmos do Teu Nome que não conheço nunca conseguirei nunca dizer 
Dizer à Humanidade para dizer que o grande sino toca um tom dourado nos balcões de ferro em cada milhão de universos, 
eu sou Teu profeta volta para casa para este mundo para gritar um insuportável Nome pelo odioso sexto dos meus 5 sentidos
que conhece Tua mão em seu falo invisível, coberta pelos bulbos elétricos da morte -
Paz, Solucionador onde embaralho ilusões, vagina de Boca Mole que entra no meu cérebro por cima, Pomba da Arca com um ramo de Morte.
Enlouquece-me, Deus estou pronto para a desintegração da minha mente, desgraça-me no olho da terra, 
ataca meu coração cabeludo come meu caralho Invisível coaxar do sapo da morte salta em mim matilha de pesados cães salivando luz,
devora meu cérebro fluxo Uno de interminável consciência, tenho medo da tua promessa devo fazer que minha oração grite no medo -
Desce Ó Luz Criador & Devorador da Humanidade, arrebenta o mundo em sua loucura de bombas e morticínio, 
Vulcões de carne sobre Londres, em Paris urna chuva de olhos - caminhões carregados de corações de anjos para lambuzar as paredes do Kremlin - a caveira de luz para Nova York - 
miríade de pés recobertos de joias nos terraços de Pequim - véus de gás elétrico baixando sobre a Índia - cidades de Bactéria invadindo o cérebro - a Alma escapando para as ondulantes bocas de borracha do Paraíso -
Este é o Grande Chamado, esta é a Toxina da Guerra Eterna, este é o grito da Mente assassinada na Nebulosa, 
este é o Sino Dourado da igreja que nunca existiu, este é o Bum no coração do raio do sol, esta é a trombeta do Verme na Morte,
Apelo do arcanjo castrado sem mãos Doação da semente dourada do futuro pelo terremoto & vulcão do mundo - 
Sepulta meus pés sob os Andes, esparrama meus miolos sobre a Esfinge, hasteia minha barba e cabelo no Empire State Building,
cobre minha barriga com mãos de musgo, enche meus ouvidos com teu clarão, cega-me com arco-íris proféticos 
Que eu prove finalmente a merda de Ser, que eu toque Teus genitais na palmeira,
que o vasto Raio do Futuro entre pela minha boca para fazer soar Tua Criação Eternamente Não-nascida, Ó beleza invisível para meu Século! 
que minha oração ultrapasse minha compreensão, que eu deposite minha vaidade a Teus pés, que eu não mais tema o Julgamento de Allen neste mundo 
nascido em Newark chegado para a Eternidade em Nova York chorando novamente no Peru pela definitiva Língua para salmodiar o Indizível,
que eu ultrapasse o desejo de transcendência e entre nas calmas águas do universo
que eu cavalgue esta onda, não mais eternamente afogado na torrente da minha imaginação 
que eu não seja assassinado pela minha própria doida magia, crime este a ser punido nos piedosos cárceres da Morte, 
homens entendei minha fala fora de seus próprios corações turcos, ajudem-me os profetas com a Proclamação,
que os Serafins aclamem Teu Nome, Tu subitamente em uma imensa Boca do Universo fazendo a carne responder.



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Aline Daka é artista visual, ilustradora e quadrinista. Formada em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da UFRGS com passagem pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, em Portugal. É ilustradora da (n.t.) Revista Literária em Tradução, curadora do Suplemento de Arte e atualmente publica em parceria com Vicente Pietroforte a HQ Eunice mora no penúltimo andar na página web da Pararraios Comics.

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Organização a cargo de Floriano Martins © 2016 ARC Edições
Artista convidado | Aline Daka
Imagens © Acervo Resto do Mundo
Esta edição integra o projeto de séries especiais da Agulha Revista de Cultura, assim estruturado:

S1 | PRIMEIRA ANTOLOGIA ARC FASE I (1999-2009)
S2 | VIAGENS DO SURREALISMO
S3 | O RIO DA MEMÓRIA

A Agulha Revista de Cultura teve em sua primeira fase a coordenação editorial de Floriano Martins e Claudio Willer, tendo sido hospedada no portal Jornal de Poesia. No biênio 2010-2011 restringiu seu ambiente ao mundo de língua espanhola, sob o título de Agulha Hispânica, sob a coordenação editorial apenas de Floriano Martins. Desde 2012 retoma seu projeto original, desta vez sob a coordenação editorial de Floriano Martins e Márcio Simões.

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