terça-feira, 1 de março de 2016

JORGE ANTHONIO E SILVA | Wega Nery: a Balada Interior


Terra…
A morte de Wega Nery, em 21 de maio de 2007, aos 95, ocorreu discretamente, em ritual de quietude como convém aos que fazem da reserva seu legado de distinção. Na constância serena do trabalho, sem concessões ou interesses pelo afã facilitador do mercado, indiferente à pusilânime crítica brasileira, a artista, finalmente, havia encerrado sua inédita busca estética, referendada por um caminho único, em prol da revelação de uma anima pessoal para a arte. Sua dynamis [1] criativa foi operada sem a necessidade de se cristalizar na relação mestre/neófito. Em entrevista de 1978, cuja primeira pergunta referia-se à opção da artista pela pintura, a resposta foi imediata: “Eu nasci pintora”, [2] eliminando qualquer especulação sobre influências ou possíveis indagações sobre seu talento para a poesia, sua atividade primeira. Tornou-se, colateralmente, leitora de expressivos autores. Arthur Rimbaud (1854/1891), Fernando Pessoa (1888/1935), Carlos Drummond de Andrade (1902/1987) embalaram de lirismo sua balada interior. Seus estudos com alguns artistas no País, hoje clássicos formadores do espírito plástico contemporâneo brasileiro não foram mais que o cumprimento da boa norma de civilidade. Humilde, para confirmar certezas íntimas, quis passar pelo aprendizado, durante o qual surpreendeu colegas pela qualidade de seu desenho, de pronto aceito para exposição no Masp - Museu de Arte de São Paulo, então espaço oficial de alta credibilidade crítica e administrativa. Esposa, dona-de-casa, mãe e artista latente, Wega Nery expressou-se na medida exata de sua busca. Viveu para compreender a essência humana pelo veio da arte, como a entender-se pela autorrevelação, que lhe chegou evolutiva na expressão da arte e como resultado de sua “solidão” criativa.
O encontro da artista consigo deu-se de forma epifânica, ao longo de toda sua existência, pela plasticidade pura que tocou com suas Paisagens Imaginárias. Nelas, fez repousar a plenitude de sua busca, porque aquele topos [3] bidimensional, amaldiçoadamente branco por natureza - a tela - feriu com a grafita, [4] rascunhando lugares, fundando as dimensões do infinito, interpretando sua abissal espiritualidade, em retratos e em autorretratos. Muitos deles atestando o olhar grave de pessoas próximas, quando não o viso da própria artista, todos em olhar distante, francamente contido, abstratamente sereno em sua segurança profunda. Muitos contidos, de braços cruzados. São seres no exercício de sua humanidade como que cumprindo o ritual de sua sina, entregando-se, inexoravelmente, à tinta e ao lápis.
Em 1950 imprimiu no óleo sobre tela Tãozinho, [5] a exata dimensão figurada da condição humana, naquele rosto circunspecto e macio de um garoto imbuído de infância resguardada, tonificada por um sentimento abissal de ausência. Esteticamente, está encarcerado nas grades escuras de sua camiseta, esboçando um misto de espanto e convicção. Essa capacidade telúrica de ver e mostrar sentimentos é mérito da artista, constatação de seu aprimoramento andante, que ocorreu dialeticamente, pela ação de fazer arte, como ato reflexo da vida e por querer consolidar-se como pessoa-artista, na medida de seus experimentos estéticos. Wega Nery não delimitou um período da arte no Brasil, e seria leviano classificá-la temporalmente, ou na condição dos estilos, tal sua determinação platônica de localizar em si a idealidade para, concomitantemente, transpô-la à obra. Esse fenômeno é entendido por Friedrich Von Schiller (1759/1804), em sua Estética Objetiva, como

“O artista é, sem dúvida, filho de seu tempo, mas ai dele que seja também seu favorito. A arte, como a ciência, estão livres de tudo o que é positivo [6] (…) Que uma divindade (…) arrebate o tempo do menino do peito de sua mãe, que o amamente com o leite de uma época melhor e lhe faça alcançar a maioridade sob o distante céu da Grécia. Que logo, quando se tenha feito homem, volte, como um estranho, a seu século. Mas não para deleitá-lo com sua presença, senão para purificá-lo, temível, como o filho de Agamenon.” [7]

Pelo exercício da narração figurativa, que demanda a dedução da natureza ali representada, evoluiu para a forma pura, cuja engenhosidade representativa requer a intuição para o aprazimento do espírito. [8] Isolada, por opção, dos favores do mercado, pautou-se na prática da criação orientada por vivências individuais, de consciente teor teológico, ou mesmo religioso, desde que entendamos a religião como a arte da reinvenção de esferas paradisíacas primordiais. Inaugurou a vida nas extensões únicas do pantanal mato-grossense, em plena estação de águas, a 10 de março de 1912, quarenta e dois dias após o nascimento do americano Jackson Pollock (1912/1956), trinta e seis dias antes do naufrágio do Titanic, a 153 Km das águas geladas dos Grandes Bancos de Newfoundland. A ambiência da infância era feita de isolamento, nas extensões calcárias de Corumbá, [9] no então Mato Grosso, região brasileira, que, até 1950, só tinha como meio de comunicação os rios Paraguai, Paraná e da Prata. É triste a terra extensa, impedida do mar que um dia foi sufocado em maresia e sal, sujeita às chuvas doces às vezes em desacerto, temerosa do rio que toda enxurrada aceita, até o derramamento impreciso da enchente sobre o asfalto. A terra de Wega Nery é feita de calcário calcinado no verão, expandido na estação fria das chuvas. É quando se expande a água sublevada sobre a terra, para formar desenhos abstratos, autônomos ao acaso. Vista a inundação do alto, a topografia mato-grossense mostra a irregularidade estética de um imenso quadro, cujo fundo seria a água e o motivo deixado a ver, as ilhas de touceiras, onde se aninham aves despejadas. [10] Há uma tristeza lírica nessas extensões, revisitada pela adolescente Wega Nery aos treze anos, quando sobre elas escreveu a pedido de uma revista de Corumbá:

“Corumbá é uma alegre cidade, muito branca, situada sobre a montanha pedregulhosa. (… ) Como são lindas as tardes em minha terra! São comparadas, elas, a tudo que de mais bello há. São dolentes e tristes. Lá, da alta torre da matriz um sino triste badala saudoso, rolando o seu som até o leito do rio que corre. Os canoeiros observam com os seus lânguidos cantares o dia que mansamente vai morrendo. (… ) Como tudo isso é cheio de poesia, para os corações dos que lá habitam.” [11]

Era bisneta do Barão de Vila Maria, encarregado de, em 1865, levar ao Imperador Pedro II a notícia de que o caudilho paraguaio Francisco Solano Lopes (1827/1870) havia invadido Mato Grosso, o que resultou na Guerra do Paraguai. Reminiscências assim são animadas pelos recursos criativos da memória, constituindo o lastro histórico de cada um, podendo fundar cultos ao passado que permanece grave, enquanto origem. Daí vem a mitologia da ancestralidade, para uns com indiferença, para outros como orgulho pela permanência de qualificativos virtuosos, já mortos com ancestrais. Wega Nery nunca se jactou de sua heráldica. Sabia dos títulos ancestrais de nobreza civil, com a narrativa interiorana sobre o Barão de Vila Maria, seu bisavô, casado com a fidalga Maria da Glória Pereira Leite, de estreitas ligações com a corte no Rio de Janeiro e em Lisboa. Sabia do avô materno, Joaquim Eugênio, o Nheco, proprietário da primeira fazenda da região, a Campo Leda, hoje Nhecolândia, uma das oito partes que formam o Complexo do Pantanal. Wega Nery viveu em Mato Grosso os cinco primeiros anos da infância sendo, depois, matriculada no Colégio Nossa Senhora do Sion, em Higienópolis, São Paulo, onde era a aluna mais nova. Ainda hoje, a missão daquela instituição visa à religiosidade. [12] Aos seis anos, escreveu aos pais:

“Eu queria saber se não veem mais aqui, fiquei triste mesmo quase chorei (… ) Eu também fiz retiro, gostei muito porque o padre falava muitas coisas engraçadas de Madame Babá (… ) Ele disse também das meninas que dizem sempre querer não quero. Não vou dizer mais - tomei as resoluções de comungar todos os dias, de não ir ao cinema, de não bater nas meninas.” [13]

O compromisso com a correção, expresso tão cedo e de forma tão contundente, indica concessão pessoal aos rigores culturais, éticos e religiosos daquela instituição, hoje, arquitetonicamente definida pela sua congregação:

“A solidez da construção do Colégio revela-se em seus alicerces de pedra, nas paredes externas com aproximadamente um metro de largura. O prédio é imponente e, logo na entrada, a vistosa escada do hall central parece sintetizar toda essa imponência. Chama a atenção também, o pé-direito de cinco metros de altura, garantindo uma excelente iluminação das salas.” [14]

Em foto da época, quando recebeu as irmãs Cibele e Mercedes no internato, aparentava uma criança consciente do valor do traje escolar que vestia, vergando o cordão de honra, indicativo de identidade e mérito perante a família que a visita. Nas primeiras décadas do século XX, a Igreja brasileira, além do culto religioso, mantinha influência sobre a educação, cujos modelos eram de extração europeia. Cumprindo a função de fundamentar bases para a erudição, ensinava e defendia valores, desde décadas antes quando, sem universidades, os capazes financeiramente acorriam ao Velho Mundo com a pretensão da formação acadêmica. Eram os filhos de uma riqueza aurífera, depois rural. Wega Nery conheceu o fausto, até quando seu pai perdeu as colheitas de café. Viajou pouco, além das próprias fronteiras, e um pouco mais para além das do Brasil. Quando recebeu o título que lhe permitiu profissionalizar-se como Normalista, foi inspetora de escolas da rede oficial de ensino, o que a obrigava às viagens solitárias pelo interior de São Paulo. Para as inspeções em Cafelândia (SP), viajava 14 horas em trem, e o mesmo tempo na volta. Morou, ainda, em Bauru, em Campinas, em São Vicente e no Guarujá, onde ergueu seu espaço, metaforicamente insular, na residência projetada por Gregori Warchavchik (1896/1972), a que chamou Ilha Verde. Em São Paulo, viveu em diferentes endereços, na experiência da terra, no pressuposto estético da…

… Água
Evaporada ou endurecida no gelo, despejada em março, o destino da água é a terra. Esse colosso planetário encarna a transitoriedade, a pureza, os limites visíveis do infinito e o prazer de embalos. É a chora [15] de todas as origens vegetais que fizeram a realidade biológica da terra. Simbolicamente, a água é o grande símbolo nas passagens ritualísticas, desde o batismo até a bênção final. Como Wega Nery, a água vaga em si, revendo a variedade complexa que abriga. Esta é a verdade da água que Fernando Pessoa poetiza: “Deus ao mar o abismo deu / Mas nele é que espelhou o céu.” [16] É um líquido vivo, de cores definidas pela luz. Revolve-se, balança em todas as direções, e precisa ser vencida nos seres que habita, como as sereias de Ulisses, [17] para lançar seus tornados, [18] aprofundar rodamoinhos, levantar as marés para a face mais próxima da lua e para se arrebatar em ressaca no asfalto. É o elemento fundante da vida biológica que evolui: da partícula microscópica à dimensão da parte e, desta, ao corpo que ganha o ar. [19] Forma o líquido amniótico, correlato do mar na origem das proles, é a base para os nutrientes do sangue. Os primeiros anos de Wega Nery foram no Pantanal, cuja origem, é dito, resulta da separação de um grande oceano, há milhões de anos, tanto que alguns animais marinhos ainda existem ali, onde se convencionou chamar de mar interior. No mesmo artigo escrito a pedido, [20] revelou o motor e alma de sua cidade; o rio:

“Corumbá (… ) aos seus pés corre como uma agigantada serpente de prata, o caudaloso rio Paraguay, que parece sentir a nostalgia de sua origem. As suas águas murmurando queixumes, deixam pensar que levam consigo o sofrimento dos infelizes. A brisa é leve e os seus murmúrios confundem-se com o sussurrar doce e calmo das águas do Paraguay.”

Uma veia poética já se expressava na adolescência, como que indiciando o que se consumaria depois, na senhora de letras, reinventora da escrita visual a partir da maturidade, quando a possibilidade do erro diminui a cada pulsação do coração que envelhece. Pedia ao filho que lhe lesse enquanto pintava, como que forjando uma ausência para criar um diálogo surdo naquelas falas de alguém, ouvidas ao som dos pincéis e das cores nos pincéis. O momento infinito de Wega Nery não ocorreu ao acaso e, embora não projetado, foi sendo intuído sem confissões nem palavras, apenas se expandindo em essencialidade silenciosa. Em papel e na tela, na dinâmica da clara imagem que foi se distanciar do motivo, até integrar-se, artista e obra, em registro de unção possível. Nenhuma obra prima é resultado da inépcia, embora raramente possam resultar do acaso. Muitas provêm da angústia. Não como dor, mas como a resultante do esforço auto-opressivo do artista em direção à descoberta, tão necessária, e tão causa de frustração quando não chega. Quando cessa o fluxo entre a ideia e a intuição, sobrevém a angústia, que prescreve a solidão, essa cor borgonha, servida ao artista como poções. Por natureza, Wega Nery quis transformar sua potência criativa retesada e clamante em imagens, como se assim encontrasse a ação exata que lhe correspondesse na arquitetura da arte. Pelo sentimento de dignidade com o outro, frequentou escola antes de assegurar-se como artista plena. E, pelo comportamento indômito e pelo rigor com a identidade que sempre prezou, levou sua labuta interior como princípio de revelação. Ensinou quando assim sentiu necessário. Procurou mestres, encontrou estudantes, professores e mestres, cada qual à sua maneira. Esses caminhos são necessários para fundamentar certezas, equalizar conhecimentos e atualizar o criador. A artista vivia em constante perquirição, pondo-se, diante do fazer artístico, com humildade que nem sempre comparecia em suas relações sociais. Fermentando dúvidas, indagando em pesquisas e indagando-se, Wega Nery lentamente foi levada ao que se poderia dizer, com cuidado, de certeza premonitória, tanto para o belo que incita amor, quanto para o sublime que demanda respeito. [21] A beleza de suas cores é, por vezes, angustiante com negros ascendentes em ogivas góticas plantando catedrais profundas, silenciosas e em clima tenso, como se as santidades que ali moram houvessem abandonado a casa em fuga desvairada, para que o espaço fosse preenchido por confissões, das quais nunca saberemos os pecados. Na profusão de cores vê-se a vontade da artista de tornar aquilo que é perceptível aos olhos algo material e resistente, para que, objetivamente, a beleza se mostrasse. As Paisagens Imaginárias objetivam a beleza, tornando-a autônoma, independente da subjetividade do fruidor para torná-la bela. Podem ser meigas à luz e, quando nomeadas, por poemas que a artista lia e admirava, como “Bateau Ivre”. [22] Podem ser assombrosas, podem ser abismais. Em geral, seus títulos para obras são misteriosos, quando não líricos, e sempre lindos. Indicam os elementos: Muralha de Sonho (1963), Imaginário em Ouro (1970), Hora da Tarde (1972), Ritmo Cósmico (1973), Fantásticos Caminhos (1977), Glória Solar (1977), Dia do Mar no Mar (1978), Revelação Onírica (1979), Sonho das Águas (1981), Sempre o Mar (1984), Último Verão (1985) e Manhã em Azul (1993), para citar alguns.
A passagem da figuração para a fase de seu abstracionismo figural ou figurativismo metafísico [23] conduziu-a a adotar os princípios estéticos, como Giorgio De Chirico
(1888/1978) com suas transposições metafóricas do movimento pela sombra rasante, em redor de suas figuras indiscerníveis. O que De Chirico tem de teatral, Wega Nery tem de essencial. Se a obra do primeiro fosse um texto teatral, a de Wega Nery seria o texto e o subtexto. Artistas dessa ordem criam novas perspectivas estéticas que podem se tornar doutrinas, tal o refinamento plástico eivado de inteligência para o ineditismo de seus formalismos. Wega Nery tornou a pintura sua própria qualidade, elevando-se da natureza, como modelo expressivo. Embora amante das paisagens em topografia natural - desde o tempo de estudos em São Paulo, encontrou-se na íntegra em suas paisagens feitas de transcendência. São as Paisagens Imaginárias, abstratas no todo e figurativas em parte.
Na natureza, a paisagem é uma dimensão infinita que requer o recorte artificial do artista, cujo olhar se educa para ser seletivo com a própria realidade. Se a paisagem está inserida no infinito, então ela pode ser a própria expressão dessa dimensão inexprimível; o infinito, na pequenez da obra. As suas, por serem imaginárias e críticas, são puras. [24] Linguisticamente, a matéria primeira desse esteticismo é a pureza de qualidades na forma de ícone [25] que, em Wega Nery, se faz arte como correlato da própria existência pensante.
Significa dizer que o homem se busca no mundo como uma obra de arte, organizando seus feitos estética, ética e logicamente. Plena de vitalismo, a expressão de Wega Nery amplia o conceito de arte que transfigura em essência vital, que justifica o artista como prestidigitador de indicativos e formas para a fruição do olhar. Veja-se o esforço do americano de Cody, Wyoming, [26] a partir da técnica do dripping, criada por Max Ernst, feita de gotejamento de cores sobre uma tela estendida no chão que, se movimentada em posição normal, cria um entrelaçamento de cores. São descobertas. Wega Nery e Jackson Pollock operaram o exercício criativo para explicar a estética na pintura como razão pura. Não pode existir objeto de arte sem uma técnica que lhe seja natural. A de Pollock resultou, ao acaso, dos movimentos físicos observados como possibilidade expressiva, mais uma genialidade em criar a explosão, tão premonitória de um mundo em sobressalto, tanto na obra quanto visto na atualidade. O americano recebeu influências dos muralistas mexicanos, confessadamente da arte construída em pedaços por Pablo Picasso, do geometrismo plástico dos navajos [27] em atitude criativa baseada no automatismo surrealista. Seu autoencontro deu-se tecnicamente nessa forma. Wega Nery, a sua vez, não elaborou artifícios técnicos, além da adoção do princípio da tekné [28] como princípio evolutivo e controlado. Sua técnica é, em princípio, clássica na pintura, salvo os espatulados que reforçam física e espacialmente a materialidade da tela. Para isso precisou apenas de tintas, telas e terebintina, mais o propósito pessoal de superação da alteridade vazia na base. De sua terra primordial, a terra pantaneira, onde se arrastam animais que necessitam da peçonha para a defesa, Wega Nery reteve a transparência da água dos rios e, em movimento aéreo de subida, como preconiza a dialética ascendente de Platão, foi reduzindo a materialidade da arte, pondo-a na combustão lenta em…

… Fogo
É o elemento da natureza que a tudo torna comum na verdade das cinzas, onde nada se pode identificar das matérias que o alimentaram. Mas ilumina, antes de ser essa matéria comum, as cinzas. Na mitologia grega, Hélios está associado ao sol na forma de um jovem coroado com uma auréola de raios dourados. Porta um cortante chicote e conduz um carro de fogo, desde a Etiópia, puxado pelos cavalos Pirois, Eoo, Éton e Flégon, pelo céu. Todos esses nomes são relacionados ao fogo e à luz. É o arauto regente dos grandes encontros humanos de Wega Nery. Foram pessoas que com ela privaram, na intimidade da família ou na particularidade da arte. [29] A artista confessa, em constância, uma solidão, que mais se assemelha a uma deliberação do que a uma circunstância de sujeição. Os solitários, por determinação íntima, são os que primeiro precisam se suportar para, depois, realizar-se no silêncio. Friedrich Von Schiller trata o assunto como libertação, quando esse estar estético no mundo congrega no sujeito a razão e a sensibilidade. As Paisagens Imaginárias, já tão citadas, surgiram ao acaso, conforme atesta a própria artista em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, de 3 de fevereiro de1983: “Certo dia pintei São Paulo de longe e a paisagem saiu intimista e irreal - imaginária. Não precisei mais do modelo. A criação vem do espírito que sonha.” Porque o sonho tem o recurso de promover a sensação inefável da simultaneidade, presente evolutivamente na obra por duas razões formais. A primeira é a possibilidade da experiência sensorial do fruidor, pela rítmica feita pelas repetições em alguns traços. Em Solidão da Esperança, um trabalho de 1969, faz irromper de patamares em perspectiva ascendente, pequenas protoformas assombreadas de cores, que bem poderiam ilustrar a visão primeira de Dante Alighieri [30] (1265/1321), aos sete céus móveis da sua Divina Comédia. O legado da artista é a conquista, pelo esforço, de sua unidade estética, aquele rosto único manifesto em forma pura possível, a que os gregos chamaram tekné, para significar ofício, habilidade e arte. Os romanos a traduziram por ars, no sentido de invenção, imaginação, acomodação a um estado de perfeição, ao qual tudo se adapta. O temperamento criativo brasileiro reflete bem essas definições, tão presentes nas Paisagens Imaginárias, em relação sensorial pura do receptor com a tela. A ordem técnica inaugural da artista comparece aos olhos, pela composição em volumes inteiros em diálogo com particulares formas inaugurais e, salvo melhor juízo, em todos os trabalhos conhecidos pelo autor [31] deste ensaio, há uma clara prevalência do amarelo. É a cor que tonaliza os primeiros trabalhos de campo, vasos de flores, cenas. Mesmo como correlação do vermelho, do verde ou do azul, ele comparece. Quando, minimamente, torna-se o ponto áureo do espaço. O amarelo é a cor de Hélios, a mais próxima da realidade transitória da luz. J. W. Goethe (1749/1832) faz considerações, algumas questionáveis, mas seu entendimento do amarelo, na composição do clima colorístico, é recebido como fenômeno visual que potencializa estados de alma.

“Nos experimentos prismáticos somente se expande numa ampla extensão de espaço iluminado; o amarelo pode ser visto aí na sua máxima pureza, quando ambos os pólos permanecem separados um do outro, antes de se misturar como azul para formar o verde. No seu mais alto grau de pureza tem sempre consigo a natureza do claro, possuindo um aspecto sereno, animado, levemente estimulante. Mais leve. (… ) Condiz com a experiência que o amarelo produza uma impressão calorosa e agradável. Por isso também na pintura pertence à parte iluminada e ativa. Embora essa cor, em estado puro e nítido, seja agradável e reconfortante e tenha nobreza e serenidade em sua máxima intensidade, é, ao contrário, extremamente sensível e produz um efeito bastante desagradável ao se sujar ou inclinar para o lado negativo. Por esse motivo, a cor do enxofre, que tende ao verde, tem algo de desagradável.” [32]

Amarelo também revela o simbolismo da elevação, pelo fogo que a tudo rege, anima e destrói, e é visto em sua plenitude, somente quando sobre o branco. Vincent Van Gogh (1853/1890) o usava para revelar a noite, tanto quanto para apoiar os girassóis em sua vontade plástica de, apenas, ser luz.
A observação de Wega Nery, ainda que incidental, daquele vitalismo vegetal, presente na movimentação de cores irrepetíveis, sons canoros de pura abstração, sem registro anterior, impróprios para a música prefigurada em letras e versos, poderia impressionar-lhe a memória em edificação. Ao sol, o Pantanal mostra a sua luz potente para a fotografia, e isso é um dado mensurável pela ótica física, bem como pela sensibilidade humana. A multiplicidade plástica de cores optada pela artista também ocorre nos sons.
O som fala na forma de sensações e, sendo energia transmitida pelo ar, é capturado pelos ouvidos, sensores cerebrais da sonoridade, movimentando o ânimo do ouvinte, ao sabor do acaso, para o homem em estado de natureza. Civilizado pela música, o som, realidade energética transitiva, surge aos ouvidos, domado pela vontade do músico. O olhar juvenil de Wega Nery, como que se, nas águas visse os matizes do fogo “Lá, muito longe, o horizonte é um mar de sangue, as águas prateadas do Paraguay reflectem esse róseo purpúreo do céo em braza.” [33]
O segmento das Pinturas Imaginárias tornou-se para ela, uma ordem de purificação para que sua percepção da realidade fosse a mesma que, tão perfeitamente, imprimia na tela. Sua interpretação da realidade paisagística começou a mudar com a aplicação de efeitos enevoados quando retratava a cidade de São Paulo. Tão distante das paradisíacas possibilidades dadas generosamente pelo Pantanal, ou pelo Atlântico, finalmente apontava na tela sua descoberta íntima. Só lhe era necessário concentrar-se na linha antes no novelo, solta com o gatinho das pretéritas imagens infantis de calendários passados, depois esticada em direção à infinitude. Bastava seguir o itinerário plenamente orientado. Se o tempo e o espaço determinam o conhecimento lógico, a descoberta, em casos assemelhados ao de Wega Nery, indica o triunfo do herói, apesar de sua falha trágica, como a de Édipo, o orgulho viril emergido no encontro com o pai, Laio, num banal estrangulamento de passagem. Mas a imperfeição é o fiel na balança da perfeição, como se uma alimentasse a outra em processo de alimentação e retroalimentação. O ruído lança dúvidas e estas lançam indagações, e estas, por sua vez, podem pressupor a verdade. Tudo é evolução, meio ao relativismo. A evolução é o movimento inexorável do cosmos, movido pela ordem e com a surpresa do clinamen. [34]
Em idade avançada, Wega Nery comentava com amigos a desnecessidade de se estar aqui, no espaço da imperfeição. Isso é platônico, quando relacionado ao Mundo das Ideias, instância metafísica de plenitude, perfeição e gozo na idealidade. De lá vêm os modelos em errância pelo mundo contingente, imperfeitos, de segunda ordem, catalogados pelo trabalho do demiurgo. [35] Para o espectador das Paisagens Imaginárias, a sensibilidade é golpeada e exaltada à vez. Essa capacidade de mobilizar a sensibilidade, como se o fruidor perspicaz fosse surpreendido, e se rendesse a qualquer laivo de emoção, não é um fim em si. Porque o espírito é convocado a postar-se para garantir o registro daquela emoção, na forma da memória em curso, para que um dia seja rememoração distanciada do arroubo que arrebata; seria o Supremo Bem. [36]
O encontro com a forma última de Wega Nery se dá pela elevação do seu espectador à vivência de algo admirável. Isso revela, finalmente, o sentimento puro de amorosidade, como tão essencialmente definiu Olavo Bilac:

“… amai para entendê-las:
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e entender estrelas.” [37]

Essas estrelas noturnas são encantamentos tardios da luz solar, lindos reflexos redondos, que nos dão um sol virtual, para afugentar a totalidade das trevas. Essas solitárias indicações amarelas, interrompidas surpreendentemente pela luz descensional de meteoros em chamas quando atingem a estratosfera. Tremeluzem intermediadas pelo nosso…

… Ar
Quando pressentia o silêncio, Wega Nery deixava de falar. Calava os pincéis para entrar no âmago de respostas, jejuando cores, indiferente ao movimento das galerias que perderam sua função para as grandes corporações, em especial os bancos, que transformam a arte em puro espetáculo. Sua fisionomia de predicações, serena, esperava bebendo os ares [38] em paixão reclusa pela arte, especialmente a sua. Os quadros, já tornados segmentos de pura predicação, entravam em tempo de esperas. Seu manancial tornou-se aragem para o respiro solitário e essencial. Já estava embalada pelo seu predicado essencial, um energizante sentido estético em que havia se tornado era sua própria definição. Vivenciando o vazio deliberado, continha sua conquista enquanto, com os olhos baixos, olhava serena para seu primeiro elemento, a terra. Como a pedra bruta se sabe gema, a artista reconheceu o que poucos haviam notado, como Luiz Modesto, talvez, seu melhor crítico:

“Wega, ao lançar mão de uma terceira dimensão, realiza um espaço valorativo que difere em espécie e finalidade da perspectiva positivista. Todo conjunto da sua obra é uma rebeldia contra a mensurabilidade, elevando a cena ao sentido em que Fernando Pessoa define ao dizer que ‘todo estado de alma é uma paisagem’.” [39]

Trata-se de comentário simples e essencial, quando da retrospectiva que lhe obsequiaram pelos seus oitenta anos, e pelos cinquenta de criação. Comemoravam-lhe a boda do metal mais precioso, quando seus amarelos já haviam se tornado ouro em esplendor de elevado quilate e os cabelos, a soma de todas as cores. Já podia falar de si, como ninguém havia falado antes. No mesmo catálogo impresso sem qualquer recurso de sofisticação, Wega Nery também deu entrevista, afirmando:

“Deus é o pintor do Universo. Ele se lembra de cada pontinho. Ele criou. Eu, por minha vez, me lembro de todos os detalhes dos meus quadros, até os erros, dos menores fragmentos. Imaginem Deus!” [40]

Havia entronizado sua qualidade indiscernível na matéria física da arte, com certeza do que é a plena criação. Algo iniciava uma história inaugural, sem tempo de começo, se vista como um de seus quadros. Sua afirmação a instituía, com palavras próprias. De fato, todo o desnecessário havia se extinguido. Envolta em nuvens, era seu próprio recurso, quando o mercado, indiferente à arte em si, entorpecia-se em seu único dilema: o lucro improdutivo, equívoco de uma sociedade patológica por expandir o valor de troca de mercadorias. Ninguém se ilude, hoje, pela recuperação de uma arte idealista demais em seu desinteresse, além do aprazimento dos sentidos. A Grécia é uma saudade normativa. Essa arte existia quando se inventou a democracia direta, praticada na ágora. [41] Mas o artista é esse ser surpreendente, o único capaz da regeneração íntima das feridas atávicas de cada um, mais as que chegam de graça na cadência dos dias. A obra de Wega Nery tinha relação genealógica com a de Paul Cézanne (1839/1906), por razões que ela mesma esclarece:

“Cézanne foi para os artistas da minha geração um elemento de muita importância, porque ele era muito rigoroso consigo mesmo, exigia de si toda disciplina e um encontro com a verdade, com o real. Cézanne não era um paisagista como os outros impressionistas, ele penetrava a paisagem, colhendo amostras do local, examinando a cor física da terra que compunha na paleta e assim transportava para o suporte um conceito matérico da paisagem. Eu acreditei nisso.” [42]

Sua composição é única na proposição do gozo da forma pela cor que lhe fez atingir a liberdade suprema de todos os interditos para a pintura, inclusive a natureza como elemento que anima sua paisagem, porque ela se tornou imaginária. Além da imaginação, da história, da educação, da fé, da crença e de si. Em sua humanidade, havia colocado a pedra fundamental da arte. Completados cinquenta anos de desenho e pintura, era em que o silêncio enleva, o recurso do silêncio é o melhor discurso. Talvez Wega Nery não soubesse do colosso de seu solilóquio, quando suas mãos se fechavam em telas por horas, dias, meses, anos. Por isso, a dor poderia ser-lhe leitmotiv, [43] pelas questões de saúde que suportou e que a levaram a se iniciar como desenhista e pintora.
A pneuma [44] unifica o cosmos, fazendo-o admiravelmente diverso em seus fluxos sem a cadência de relógios. Animando-lhe a alma, está abaixo, a terra, parte inferior de sustento para nossa evolução, que, como o pelicano, se entrecorta para dar guarida aos rios em seu afã pelo sal, e para imobilizá-los em gelo, água desfeita de infinito. O sol é o princípio de renovos nesse espaço de uma só trajetória. Seu sopro íntimo de energia modela o que contém. Cada obra acabada de Wega Nery continha a inscrição de leis únicas em pedras, compreensíveis a iniciados, na forma de neoalquimia, [45] barroca, original e ousada. Ao ver seus próprios feitos, com olhos verde-cigano, deveria experimentar momentos contínuos de satisfação, glória repentina e quieta, pronta a ser superada pelo enthousiasmós [46] com a próxima tela. Talvez…
Paisagens Imaginárias… Induzem mas não dizem… Propõem micro realidades generativas que se ampliam minimalmente em outras… imaginação em brasas, festeja identidades fortuitas… Profundas inscrições rupestres em rochas estratificadas indicando crepúsculos na dolência viva de um sonho relembrado… langores visuais aos quais o olhar se entrega irresistível… sucessão de linhas que não formam retas porque entre um espaço da tela e outro, há mais quadros de diversidade que bem poderiam ser, autonomamente, outros… Wega Nery… caminhos de embriaguez por espaços físicos obliterados… paredes sem portas defendendo o jardim, onde, uma só rosa azul sobe, abrindo caminho aos espinhos… Centro onde não se chega quem dali não é… aboios plangentes em tardes rurais indicando a morada da noite pantaneira… século estelar de luz derramada em branco e amarelo… zumbido de enxame… sementes aéreas sem tempo para o messidor… [47] itinerário de nereidas mensageiras… cavernas de luz, múltiplo teatro de eras, extensões de chumbo, sombras dilaceradas, pergaminhos de incredulidade… palimpsestos vencidos, deixando emergir a tinta antiga com sombras ancestrais alterando paisagens… explosões de minas estufadas de metais… brutos… brilhantes… possibilidades para as nuvens… timidez de visitante, contida em vulcânica explosão… brumas escorridas no vidro… terra cindida… murmúrios de natimortos. Wega Nery… oceano ferido de mel, embriaguez de aceno ferido… narcóticas imagens… retenção de claridades… embriaguez da razão febril… êxtase de Santa Tereza, rosas profusas de Santa Rita… sublimação e arrebatamento íntimo… paisagens da Pasárgada… [48] tensão forasteira… caminhos de ida sem indicações. Triunfo… Mais ar.

NOTAS
1. Capacidade ativa e passiva, potência para a realização de algo.
2. MESQUITA, I., Wega Nery - Reflexos do Real Invisível, Edições K/MWM, São Paulo, 1987, p. 163.
3. Lugar das formas.
4. Mineral, também chamada de chumbo negro ou plumbalina. Forma trigonal do carbono puro empregado na fabricação de lápis.
5. Diminutivo para o nome do filho, Sebastião (Gomes Pinto).
6. Positivo: princípios sociais, políticos, jurídicos etc., que servem a uma época, um Estado, em contraposição aos princípios absolutos. SCHILLER, F. Von, Kallias, Antropos, Barcelona, 1990. T. do A.
7. SCHILLER, F. Von, A Educação Estética do Homem, Antropos, Barcelona, 1990, T. do A., p. 173.
8. Ou razão pura.
9. Do tupi corupah, para significar lugar distante.
10. Desocupação compelida por alguém ou algo.
11. Carta reproduzida no livro Wega Nery - Reflexos do Real Invisível, Edições K/MWM, São Paulo, 1987.
12. Incentivar a descoberta e vivência dos valores permanentes da pessoa em relação consigo mesma, com os outros e com o absoluto de Deus. www.colegiosion.com.br/historico. 25/04/2009
13. MESQUITA, I., Wega Nery - Reflexos do Real Invisível, Edições K/MWM, São Paulo, 1987, p. 18.
14. www.colegiosion.com.br/historico. 24/04/2009
15. Em grego, área, espaço, como qualidade contínua e permanente.
16. Do poema “Mar Português”, de Fernando Pessoa.
17. Odisseu, em Grego. Em sua viagem de volta, passando pela Ilha das Sereias, amarrou-se ao mastro, de ouvidos tapados, para não ouvir-lhes as vozes sedutoras para o afundamento no mar.
18. Furacão que sopra no Golfo do México e no Mar das Antilhas, atingindo o continente, sobretudo entre julho e outubro.
19. Em grego, pneuma, ar ou respiração. O verbo grego cognato é usado em ambos os sentidos em Homero. PETERS, F. E., Termos Filosóficos Gregos. Um Léxico Histórico, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1983.
20. Carta reproduzida no livro Wega Nery - Reflexos do Real Invisível, Edições K/MWM, São Paulo, 1987.
21. Parafraseando a definição de Immanuel Kant em: Crítica da Faculdade de Julgar.
22. “O Barco Sonâmbulo”, poema de Arthur Rimbaud (1854/1891).
23. Os termos foram criados pelo autor.
24. Trata-se do tipo de razão de que se valeu Kant justamente para examinar (criticamente) a razão (pura). A razão crítica é a razão que se examina e, portanto, que critica a si mesma, isto é, critica os seus pressupostos. MORA, J. F. Dicionário de Filosofia, Martins Fontes, São Paulo, 1994.
25. Representação ou signo que guarda semelhança qualitativa com seu referente. Ex. a obra de arte.
26. Jackson Pollock.
27. Tribo nativa do sudoeste americano. N. do A.
28. Em grego, ofício, habilidade, ciência aplicada. Trata-se da habilidade perfeita para a realização de uma tarefa.
29. A família, alguns amigos, a poesia, a prosa, as artes em geral. Citava sempre Sérgio Milliet, Lourival Gomes Machado, José Geraldo Vieira, Geraldo Ferraz, Mario Pedrosa, Léo Gilson Ribeiro, Quirino da Silva, Jacob Klintowitz, Olívio Tavares de Araújo, Osório Cesar, Jaime Maurício, Quirino Campofiorito e, em especial, o seminarista Severino Martins.
30. Poema épico e filosófico que revela a estrutura do pensamento simbólico-religioso do período Medieval. N. do A.
31. Isto é uma simples opinião, de quem ainda pretende conhecer a obra de Wega Nery; portanto, pode constituir-se em erro de interpretação, situação em que a afirmação não deve ser considerada.
32. Goethe, J. W., Doutrina das Cores, tradução de Marco Giannotti, Nova Alexandria, São Paulo, 1993.
33. Carta reproduzida no livro Wega Nery - Reflexos do Real Invisível, Edições K/MWM, São Paulo, 1987.
34. Desvio. Demanda o rearranjo da ordem em movimento pressuposto de perfeição.
35. No Timeu (29d-30c), construtor, artífice. Criador dos deuses inferiores, da alma do universo, uma das causas inteligentes e eficientes do universo.
36. Em Ética a Nicômaco, sua principal obra sobre Ética, Aristóteles (384 a.C./322 a.C.) discute a razão como principal finalidade humana. Dela se estabelece a virtude, a partir do hábito e da prudência. A Ética, portanto, tem como finalidade o Summum Bonum, o Supremo Bem. Isto seria o ideal da felicidade humana, eudaimonia.
37. “Via Láctea”, poema do autor parnasiano, cognominado Príncipe dos Poetas Brasileiros.
38. Beber ares, expressão que significa dedicar-se muito, esmerar-se.
39. Catálogo da exposição A Ilha Verde de Wega, Museu de Arte de Brasília, Brasília, 1993.
40. Catálogo da exposição A Ilha Verde de Wega, Museu de Arte de Brasília, Brasília, 1993.
41. Espaço público, por excelência, em contraposição a espaço particular.
42. Catálogo da exposição Wega, Centro Cultural São Paulo, São Paulo, 1994.
43. Em música, motivo condutor. Algo sobre o que se insiste com frequência.
44. Ar ou respiração , unificador do cosmos, o vazio exalado pelo universo. O primeiro ponto de vista sobre o universo vivo, fato gerador (… ) espírito não material.
45. A Alquimia é uma tradição antiga que combina elementos de química, física, astrologia, arte, metalurgia e religião. Existem três objetivos principais na sua prática. Um deles é a transmutação dos metais inferiores e o outro, a obtenção do elixir da longa vida, uma panaceia universal, um remédio que curaria todas as doenças e daria vida eterna àqueles que o ingerissem. Ambos estes objetivos poderiam ser atingidos ao obter a pedra filosofal, uma substância mística que amplifica os poderes de um alquimista. Finalmente, o terceiro objetivo era criar vida humana artificial, os homunculus.
46. Divina habitação interior. Possessão e sentido de unidade que indica o ser cósmico. N.A.
47. Décimo mês do ano e primeiro mês do verão no calendário da Revolução Francesa. Entende-se como o período em que as espigas já estão douradas para a colheita.
48. Poema de Manuel Bandeira, no qual a cidade de Pasárgada, a nordeste de Persépolis, ambas na antiga Pérsia, é o ideal e esperança de realização sensorial plena. Há nessa imagem uma conexão poética com os feitos de Wega Nery, em especial se vistos em sua fase última.



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Jorge Anthonio e Silva. Doutor em Estética pela Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo. Membro da Associação Paulista de Críticos de Arte e Autor dos livros Ivonaldo
(2002), O Fragmento e a Síntese - A Educação Estética do Homem (2003), Arthur Bispo do Rosário - Arte e Loucura (2003) e A Torre de Babel de Valdir Rocha (2007).
Página ilustrada com obras de Wega Nery (Brasil), artista convidada desta edição de ARC.







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