domingo, 25 de outubro de 2015

KAZIMIR PIERRE | MANIFESTO KOLAX de Zuca Sardan, seguido de lampejos sobre as Artes Plásticas


O Mundo não é esférico, mas, sim, em forma de OVO… Daí o sucesso global do Coelho da Páscoa. A Obviedade Ovante !… [que] se assenta sobre o bundão maior do Ovo e não há nada que a demova de suas convicções filolux (Jean-Jacques, e seus panurgéricos seguidores: Lux, Lux, mais Lux!… Há… jassaco).

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A medida-in extremis das páginas do kataloko deve ser o tradicional a-5, ou seja, meia-folha ofício, cerca de 21x15 cm. Dentro dessas bordas matriciais vale praticamente tudo, molduras retangulares, circulares ovais, poligonais, etzzz etzzz. .. as leitoras ficarão encantadas com a variedade de quadros !… quanto aos leitores… que senquadrem lá como possam… Guardemos apenas alguns marcos referenciais. Assim todo desenho, artigo ou legenda deve conter o nome do autor inscrito numa borda do produto, seja este lá qual seja. Assim quando for legenda ao rodapé de vinheta, desenho e legenda devem vir assinados nas respectivas bordas por seus autores. Assinatura clara e visível na obra revela uma confianzza  de condottere, de Coglione a Cavalo, que impõe respeito aos magarefes e carcamanos. O Kataloko sendo o patrono moral da kola criativa, e do pastiche fulminante, devemos kolar a granel, em macarronix…Assim por exemplo, uns nacos de frases sacados de críticos famosos, salpicados com solertes mudanzas duma ou outra palavra, no korpo-santo do artigo kurto (máximo tamanho a-5). As ressonâncias dos nacos usurpados, além de trazerem uma nobreza indefínivel ao artigo, enlevará, pelos ecos familiares na mente, os leitores mais eruditos. Sucesso garantido. Os kioskes mais finos seráo invadidos pela nossa elite em delírio…  se trocarão sopapos pra conseguirem um exemplar.

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Bisogna maneirar com os Gnomos que vivem no inconsciente e aprontam mandracas que são aparentemente contrárias a nossos planos… porque pertencem uma Razáo Gnómica…

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& AVISO DO EDITOR | A seguir tornaremos públicos os trechos mais escatológicos do Manifesto.

Depois das colagens cubistas e daquelas surrealistas de Max Ernst, chegou o tempo de retornar à cola escolar, como foi proposto por Alfred Jarry que colou de si mesmo e de seus camaradas de colégio o texto do Rei Ubu tal e qual. O colador de gênio ultrapassa o cu-de-ferro de quem havia colado a matéria prima em virtude de  uma ciência secreta alquímica de transformação da matéria fecal em ouro filosofal. Essa transformação será tanto mais radical quanto menos for mudada a matéria prima, até o ponto em que parecendo _ para a turba ignara _ ser totalmente idêntica à original, a matéria filosofal terá sido inflamada pela chama invisível de Prometeu. 
Será preciso então superar inteiramente o preconceito moderno contra a cópia para  produzir a verdadeira MERDRA, i.e., transmutada em ouro?
Sim, é bem este o caso… não poderemos nos furtar a essa missão irrealizável, quase suicida, de desafiar o mundo das finanças globalizadas… Contra os originais da arte de merdra (e aliás o dinheiro é um avatar da merdra e vice-versa), e logo para transformar essa merdraem ouro, é preciso representar as merdroriginais através de FALSAS cópias!…Pois… se as cópias fossem verdadeiras de verdade elas seriam cópias de merdra e logo merdras de cópias…  É por isso, então… que é preciso criar as falsas-cópias. Saudações pyrosóficas!

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Aliás, é o que o sr. Bodeclair acaba de dizer sobre a mostra do nosso Zefir Soldan na sulfurosa Galeria da Ordem do Templo: Zefir é uma espécie de gênio involuntário que sabe extrair da preguiça ancestral uma grande parte da produção de seu insignificante papelório recolado junto para dar ao público ingênuo de nossos dias a ilusão de ver grandes afrescos renascentistas… Vejam por exemplo este "Auto-da-fé de Sansão no atelier de Rembrandt". É o procedimento da Cola do Colégio Pytanga conduzido aos seus extremos mais condenáveis, fazendo de Zefir um falsário de pastiches.

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Zomar Kardan, poeta persa pre-samaritano, procura em sua poesia captar o chilrear dos pássaros, o zombar de ventos e o zumbir de abelhas… o que o levou a uma sonoridade lambrequista de  Poesia Totemikonomatopaika…Perseguido pelas autoridades, fugiu de falua, e veio se refugiar no Camelódromo, na Rua Senhor dos Passos, onde o fomos entrevistar.
zzzzzzz
FENTO // O Bassarrinha / foa… / e o Fento… / assofffia … //
Zzzzzzz

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Creio que os instalazzionistas partiram pros videos etzetz justamente pra destruir o instante eternizado kanteano, mas isso me parece uma fuga pra fora da tela, scaparam por traz da moldura, o psicopatetismo do marcel duchamp pret-a-porter. O dificil justamente eh não fugir da tela, qual Leonidas nas Thermopilas enfrentar a chuva de flechas dos xerxes da posmodernidade apres tout que xerxez vous ? eppure si muove !…

& Para encerrar, um furo de reportagem:

COMO SERIA POSSÍVEL fazer face ao desafio de uma tela que se afirma por sua súbita ausência no Salão de Outono?
A tela em questão,  “A Travessia do Mar Vermelho Pelo Faraó Engolfado” é somente conhecida pelos relatos de Dona Redinha, chefe do setor de vigilância  do Palácio das Artes.
Tal paradoxo é a confirmação de uma tradição, devidamente conservada no Katalox Kolax, mas desaparecida em torno: a Pintura Mental.

FIM


NOTA
Sublimes imagens mentais que suscitam um vago terror acompanhado de fecunda perplexidade! [N. O.]




[Especialmente organizado e revisado por Kazimir Pierre para esta edição de ARC. Outubro de 2015.]






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